Gastromotiva: projeto leva culinária à comunidade transex

Comunidade transex recebe projeto Gastromotiva

Mundos que se mesclam. O colorido das frutas, verduras e legumes que se misturam com os sentimentos, com o amor pela arte de cozinhar. Transformar momentos da realidade de travestis, transexuais e profissionais do sexo, em algo prazeroso e lucrativo. Assim surgiu a ideia do projeto Gastromotiva, idealizado pela acadêmica Camila Bruno, que cursa o 4º semestre de Gastronomia da UNIGRAN. Com o apoio da coordenação, ela e outros estudantes deram vida à proposta.

"Eu sempre tive um interesse muito grande em fazer algo para mudar a realidade da vida das pessoas e a escolha pelas profissionais da noite surgiu dessa intenção. A ideia é dar uma outra opção de lucro para essas meninas. Do projeto até a conclusão do nosso projeto foram quatro meses, tudo preparado com carinho para oferecer o melhor de nós, nossos conhecimentos nos ensinamentos repassados para essa parte da população menos assistida, melhorando assim a renda familiar de cada uma delas", diz Camila Bruno.

Aluno do 1º semestre do curso, Adilson de Vasconcelos Junior, afirma que participar da ação foi de extrema importância não só acadêmica, mas também para o futuro profissional. “Atividades assim agregam, e muito, na questão de você olhar para o outro, para a realidade de quem estamos servindo. Nós trabalhamos com pessoas e ter esse contato mais próximo enriquece, temos que saber para quem estamos cozinhando, colocando ali nosso amor. A realidade da nossa profissão é ficar muito dentro da cozinha, então é importante desenvolvermos esse contato até para entendemos nosso cliente, conversar com ele e saber o que ele pensa, traz mais humanização para o nosso dia a dia”, conclui Junior.

Tirar daquela máxima tão famosa, intitulada ‘difícil vida fácil’ as profissionais do sexo, não é assim tão fácil, mas não é impossível. Líder do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis) de Dourados, Claudia Assumpção foi uma das primeiras a saber do projeto e incentivar a atividade. Em meio a tanto preconceito, maus tratos e violência: uma luz.

“Eu sempre fui apaixonada pela arte de cozinhar e tenho muitos cursos na área. Quando eu disse para as meninas sobre a ideia da Camila, elas gostaram muito. A ideia não é querer que elas deixem a prostituição, até porque isso vai muito de cada uma, mas que essa seja uma segunda opção na hora de prover o sustento”, afirma Assumpção.

Atualmente, a líder do movimento LGBT de Dourados é concursada na prefeitura da cidade e afirma que além do salário, consegue ter renda extra, produzindo e vendendo gêneros alimentícios confeccionados e produzidos por ela mesma.

“As meninas, a partir das aulas desse projeto, podem se inserir no mercado de trabalho, assim como eu também me inseri, já passei pelas situações que elas passaram, são situações que não queremos viver novamente e, por isso, os estudantes do curso de Gastronomia têm todo nosso apoio”, salienta Cláudia.

Participar de eventos que promovem a união de pessoas que compartilham a mesma realidade é importante para criar ainda mais elos entre a classe, mesmo que, por exemplo, não haja interesse mútuo pelo assunto em comum. Atitudes assim, acabam gerando uma nova vertente de aprendizado e, consequentemente, um novo rumo dado para a vida. Foi assim com a Vaiola Mendes Pinho, uma das participantes. "Mesmo não tendo ainda tanto interesse pela cozinha, a atividade pode despertar interesse pela curiosidade e isso é bom porque nos incentivou a fazer outras coisas. A sociedade muitas vezes não tem interesse de querer interagir conosco e essas ações acabam nos unindo mais", diz Vaiola.

Abrir as portas de casa, para o primeiro passo do projeto Gastromotiva foi também o primeiro passo para um futuro de, talvez, menos preconceito e mais aceitação. Para Rafaela, dona da local em que foi realizada ação, esse projeto abre as portas para uma realidade que muitas que estão no mundo da prostituição esperavam para ver além do horizonte. "Muitas de nós, travestis, temos uma visão de que só podemos trabalhar com a prostituição e isso não é verdade, essa ação foi um caminho legal para aprender coisas novas, uma nova qualificação para o mercado de trabalho e o melhor, encontrar uma alternativa para quebrar a barreira do preconceito de que travestis e transexuais precisam viver apenas da prostituição", acredita Rafaela.

“Nós podemos ter qualquer profissão. Existe um preconceito muito grande, principalmente com nós, travestis e transexuais, de que servimos apenas para a prostituição, mas não. Existem muitas advogadas, engenheiras, enfermeiras e eu mesma, sou prova de que tudo pode mudar. Em dois anos serei assistente social, eu acredito que basta querer para poder mudar e esse projeto Gastromotiva tá ai, para mostrar isso para todas as meninas que sobrevivem do sexo”, reitera a líder do movimento LGBT de Dourados, Cláudia Assumpção.

Nos pequenos gestos, grandes atitudes. Levar à comunidade, carente não apenas de bens materiais ou financeiros, mas de amor, carinho, afeto, um pouco mais de solidariedade. Proporcionar para quem realmente precisa, apoio para seguir a vida sem humilhações, constrangimento, violência.

"Eu tenho um restaurante na cidade e um dia uma transexual veio até mim, pedindo um emprego. Ela estava totalmente constrangida por estar ali e isso me tocou. Nosso quadro de colaboradores estava completo, mas ali, naquele momento eu senti que alguma coisa precisava ser feita, uma ação palpável, foi quando sentei com o professor Marlon Libório, coordenador do curso de Gastronomia, e assim a Gastromotiva começou a nascer. Eu acredito que a gastronomia é o combustível para a mudança. A ideia agora é transformar o projeto em uma das etapas de estágio do curso, assim, proporcionando a troca de experiências que também faz parte dessa profissão tão linda que é a arte de cozinhar e com muito amor", finaliza Camila Bruno.

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