Projeto aproxima universitários da legislação e cultura indígena

A ideia é capacitar futuros profissionais para melhor atender esse público

Wilson, primeiro índio advogado do MS, falou aos acadêmicos na abertura do projeto

Em 1998, quando Wilson Matos da Silva ingressou na faculdade, poderia ser o fim de sua jornada para conseguir uma graduação. Era, porém, apenas o primeiro capítulo de uma história cheia de desafios e que não acabou até hoje. Primeiro índio a conquistar o registro na Ordem dos Advogados do Brasil – OAB no Mato Grosso do Sul, ele foi convidado para dar a palestra de abertura do projeto “O estado de direito e a questão indígena”, realizado por acadêmicos e professores do Núcleo Jurídico da UNIGRAN.

Wilson se formou com honras pela UNIGRAN e foi orador de sua turma, mas nunca encarou a faculdade ou mesmo o pioneirismo como advogado indígena como um status. “Meu desejo não era sucesso. Eu sei que para um não-índio se formar em Medicina, Direito ou Engenharia é um destaque, uma posição social, mas para mim foi simplesmente uma possibilidade de lutar pelo meu povo”, esclarece.

Convidado para a palestra de abertura, ele falou sobre sua experiência como advogado e membro da Aldeia Jaguapiru, e sobre a importância de iniciativas como essa. “É fundamental, para que os acadêmicos possam realizar algo, que eles conheçam um pouco da cultura”, afirma.

A ideia do projeto surgiu justamente dessa necessidade. “Nós víamos a necessidade dos acadêmicos entenderem mais sobre as legislações que envolvem o índio, dessa vontade de aprofundar mais esse conhecimento”, conta Kelei Zeni, uma das professoras responsáveis pelo projeto. O grande número de indígenas vivendo em Dourados e região também foi um fator importante.

O objetivo é aproximar os acadêmicos dessas políticas públicas especializadas. Através de debates, palestras, produção de artigos e visitas às aldeias, os acadêmicos mergulham na cultura indígena e fazem o exercício de ver o outro lado, o que, segundo a professora Kelei, ajuda a humanizar o profissional.

“Queremos despertar a visão humanística do Direito, fazer o acadêmico ir à campo. A intenção é que ele saiba que, quando for um profissional, tem que saber lidar com essas situações. Saber que existem pessoas do outro lado”, explica. O exercício também é feito durante as ações sociais da UNIGRAN, onde o acadêmico é levado até a comunidade e conhece mais a fundo a realidade da população.

PARTICIPAÇÃO ACADÊMICA

Inicialmente, o projeto era voltado para acadêmicos a partir do 5º semestre, mas logo duas calouras apareceram, cheias de vontade de participar. E não era para menos. Mariana Boverio Mazutti, 20, e Emanuele de Brito Chaves, 18, tiveram duas experiências nem um pouco positivas, mas que despertaram nelas o desejo de aprender uma nova cultura.

Mariana era recepcionista do próprio Núcleo Jurídico quando uma índia buscou ajuda, com um bebê no colo, porque sofria agressões do companheiro enquanto estava grávida e, depois do parto, corria o risco de perder a criança para ele. Ao descobrir que o Núcleo não podia interferir no assunto, ela se sensibilizou. Uma semana depois ela ficou sabendo do projeto e não pensou duas vezes.

Já Emanuele ficou sabendo de um índio que frequentava a mesma faculdade que uma amiga e sofria forte pressão em casa para abandonar os estudos. Eventualmente, a não aceitação da família fez o jovem cometer suicídio. “A partir disso eu fiquei chocada e passei a me perguntar ‘o que tem na cultura deles que eles não podem?’, foi ai que eu comecei a ficar mais interessada”.

Emanuele também destaca o papel do projeto em fazer os acadêmicos esquecerem suas opiniões. “Eu estou ali para defender o direito da parte, e não o meu ponto de vista. O operador de direito não pode estar ali pela sua opinião, mas sim avaliar todo o contexto, e esse tipo de projeto que vai lá, que vê a cultura e a realidade, torna você uma pessoa mais humana”.

O projeto se estenderá ao longo de todo o ano, com produção de artigos científicos, debates e visitas a campo. Apesar de estar com as vagas esgotadas, interessados em participar podem procurar a professora Kelei, no Núcleo Jurídico, para mais informações.

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