Entrevista com o cantor Ney Matogrosso

Cantor Ney Matogrosso se apresenta na abertura da 30ª UNIARTE

Ney, você completou 41 anos de carreira esse ano, qual é o sentimento que descreve quatro décadas de carreira de trabalho?
Olha, eu não penso sobre isso, eu vou vivendo a minha vida e vou fazendo as coisas que eu gosto de fazer, que me dão vontade de fazer.

O que você acredita que precisa para ter uma carreira tão consolidada?
Não sei, porque não existe fórmula de nada, não tem o que dizer sobre isso, algumas pessoas tem outras não tem.

Muitas entrevistas e muitas crônicas te descrevem como artista enigma, você consegue entender o por que disso?
Não, porque eu não me considero um enigma. Então, não sei o que as pessoas querem dizer com esse enigma, existe talvez uma coisa assim, pois sou uma pessoa com um pensamento muito declarado, eu falo sobre todas as coisas, mas sobre a minha vida, ninguém sabe nada, talvez seja sobre isso, porque acho que minha vida interessa a mim apenas, não diz respeito a mais ninguém, agora o resto eu não tenho nenhum problema de tocar em nenhum assunto.

Você leva alguma coisa do Mato Grosso do Sul?
Olha nunca achei que eu tivesse sido marcado assim, até que uma vez eu voltei, em um Festival em Corumbá, que é um Festival Internacional, e quando eu cheguei lá e eu senti uma coisa tão forte, e engraçado porque eu não nasci lá, mas senti uma coisa de pertencimento ao estado, pela primeira vez na minha vida eu senti uma coisa, meu Deus eu tenho uma raiz aqui, foi muito forte para mim, eu achava que não por não ter sido criado aqui, e desde então eu acho que sim.

Você vê alguma coisa de diferente nesse estado, desde quando Ney nasceu aqui?
Ah quando eu nasci aqui as florestas eram todas de pé, eu fico chocado de ver que não tem mais floresta nesse estado, me deixa assustado, seria a palavra certa, pois sabemos perfeitamente já as consequências disso.

Você fala muito que quando jovem precisou ser subversivo para enfrentar e seguir a carreira de artista, como você descreveria essa subversividade?
Eu fui transgressor, porque eu precisava ser, e sou até hoje, eu penso com independência, pois as pessoas pensam em bloco, as pessoas são comandadas, e o meu pensamento sou eu que comando.

Nessa linha como você vê o comportamento do jovem hoje em dia?
A eu acho muito retrocedido, muito conservador, embora paradoxalmente exista a internet, que diz que está tudo liberado, mas eu acho que houve uma regressão nesse sentido de comportamento, muito conservador.

Em uma entrevista você disse que não existe o ontem, o hoje e o amanhã, que o tempo existe agora. O que você diria para um jovem, nós estamos falando de universidade, que está escolhendo um curso só por dinheiro e status?
Eu acho que ele deveria estar buscando uma carreira que lhe proporcionasse felicidade, satisfação, pois quando você abre mão da sua felicidade e da sua satisfação pessoal, pelo dinheiro, em algum momento lá na frente você será infeliz.

Você precisou abrir mão de diversas coisas para viver sua carreira?
Eu abri mão de tudo, eu fui viver à margem da sociedade.

E valeu a pena?
Claro que valeu. Eu chego aqui íntegro, chego inteiro, não precisei me submeter a nada, não precisei me submeter a Governo, igrejas nenhuma, sou um ser humano independente.

O que falta para esse jovem de hoje, para conquistar tudo isso?
Não sei, falta ele pensar por ele mesmo, se guiar pelo que o coração dele disser, pois sabemos que as famílias empurram os filhos, você vai ser isso, aquilo, e você tem que ser aquilo que você vai ser feliz fazendo.

Como você vê seu reconhecimento profissional?
Me vejo reconhecido quando eu saio da minha casa, às vezes sem nenhuma vontade de sair, vou para longe, às vezes em situações precárias, adversas e chego no palco, subo faço e vejo um público totalmente aberto, receptivo, isso para mim é a satisfação do meu trabalho, é isso que me move.

A cada tempo você lança novos discos, mas a cima de tudo, novas letras, novos recados, qual é o que você esta passando agora?
Quando eu comecei fazer esse trabalho não tinha acontecido nada daquelas coisas que aconteceram no Brasil em julho [manifestações], e de repente eu vi que fiz um trabalho, que a abertura do trabalho é totalmente identificada com isso, parecia que eu estava falando daquilo, embora eu tenha começado a fazer o show isso não tinha nem acontecido. Então existe uma coisa assim, uma percepção que a gente tem, por isso dizer que os artistas são as antenas da humanidade. Fiquei refletindo muito sobre isso, porque quando eu vi o show no ar e vi tudo aquilo acontecendo eu disse: meu Deus parece que eu sabia que isso ia acontecer e eu estou falando disso sem saber que isso aconteceria.

Especificamente sobre filme “Olho Nu”, o qual você está sendo homenageado na UNIARTE, você quis que isso acontecesse para que as pessoas o conhecessem?
Não, isso não foi ideia minha. Eu estava conversando com o Paulo Mendonça que é presidente do canal Brasil, que é meu amigo há mais de 40 anos, ai um dia conversando com ele eu disse: Paulinho eu tenho tanto material, pois tudo que tinha imagem e som eu pedia uma cópia, mas eu pedia porque gostava de ter, ai eu disse tenho tanta coisa em casa que não sei o que fazer, está estragando, ai ele disse manda para mim vou mandar limpar as fitas, copiar em CD para você ter isso guardado. Aí ele me disse: Ney você tem 300 horas, ai ele me propôs vamos fazer um programa pra TV? Ai eu fui pra casa e pensei: por que ao invés de fazer para a televisão, não fazemos para o cinema? Aí ele aceitou fazer para o cinema, eu acho o cinema mais interessante.

Você está feliz com o resultado? Era o que você queria?
Eu não sabia o que eu queria, e nem o que seria, na verdade aquilo o Joel [Pizzini] teve a liberdade de fazer um trabalho sobre o meu trabalho, eu olho pro filme como um ponto de vista artístico do Joel, sobre todo aquele material que tem uma fatia da história.

Mais fotos do show. 

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