Soja: desequilíbrios estruturais comprometem os preços

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Fonte da foto: blogdocaminhoneiro.com

* Leonardo Mussury

Estamos colhendo uma das maiores safras de grãos que conforme relatório da CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento, estima a produção de 185 milhões de toneladas onde a soja representa 44% de todo esse volume e o milho com uma participação também significativa com uma safrinha superior a 36 milhões de toneladas. Isso significa uma safra total de 72 milhões de toneladas. Esses números apesar de confirmar a vocação produtiva do setor primário torna preocupante em termos de formação de preços, diante das deficiências logísticas que o país enfrenta.

A nova lei trabalhista imputada ao setor de transportes rodoviários faz com que as viagens rodoviárias se tornem mais lentas e mais onerosas o que leva por conseqüência a um aumento do frete e uma menor oferta de caminhões, já que boa parte deles levarão um tempo maior de sua origem até o destino. Isso acaba reduzindo o preço para o produtor rural que terá seu preço diluído pelo custo de logístico. Prova desse raciocínio se prende aos dados que em 2012 a soja embarcada no Mato Grosso do Sul com destino ao Porto de Santos girava em torno de R$ 130,00 a tonelada e em março de 2013, esse mesmo frete chegou a R$ 170,00 a tonelada. Um aumento de 30%.

Outro fator é nossa capacidade de armazenagem que deverá influenciar significativamente no preço da soja ou no preço de milho que será colhido a partir de junho. Nossa capacidade estática gira perto de 125 milhões de toneladas e nossa produção será de 185 milhões de toneladas, Isso significa que temos 60 milhões de toneladas sem garantia de armazenagem e que coloca uma pressão de venda que deverá ocorrer na entrada da safrinha. Ou seja, se quer armazenar o milho tem que vender a soja. Ou, se quer armazenar a soja terá que vender o milho. Isso por si só não é solução para a classe produtora, mas sinaliza que deveremos ter um efeito manada na safrinha ou de um produto ou de outro. Lembremos que temos ainda a safra de trigo e outros subprodutos que deverão ser colhidos ao longo do ano com destino ao mercado exportador, comprometendo ainda mais a situação no 2º semestre.

Nosso consumo interno de soja é perto de 42 milhões de toneladas para uma safra de 82 milhões de toneladas. Isso indica que o país terá que exportar 40 milhões de toneladas. Quanto ao milho, nosso consumo gira em torno de 52 milhões de toneladas para uma produção de 72 milhões de toneladas mais os estoques de passagem que temos em torno de 8 milhões de toneladas. Isso significa que teremos que exportar perto de 22 a 25 milhões de toneladas de milho que somados ao excedente de soja (40 milhões de toneladas) nos dá uma necessidade exportadora de 65 milhões de toneladas aproximadamente. Isso é muito produto para a caótica estrutura logística que temos.

Em tempos de máxima eficiência, o Brasil conseguiu exportar 7 milhões de toneladas de soja por mês e se conseguirmos atingir essa meta e as chuvas não prejudicarem o sistema operacional dos portos, estaremos no mês de agosto ou setembro escoando todo o excedente de soja, já que perto de 4 milhões de toneladas já foram embarcadas para o exterior e isso nos coloca numa situação de fragilidade no mercado porque a Argentina está colhendo uma safra superior a 50 milhões de toneladas e os Estados Unidos começa a colher a sua safra em setembro de 2013. Em função das vantagens que esses dois países têm em suas logísticas se comparadas a logística brasileira, podemos terminar 2013 com parte da soja destinado a exportação no mercado interno e perdermos a oportunidade de preços que a baixa oferta do produto no mercado nos fez obter.

Em suma o que pretendo mostrar é que o mercado de soja desde março de 2013 vem tendo seus preços reduzidos em função das dificuldades de logística, que acarreta a queda dos prêmios e conseqüentemente os preços na exportação, o excesso de produtos que entrarão no mercado a partir de abril e maio como o açúcar e milho destinados também ao mercado exportador, a alta dos fretes que deverão aumentar ainda mais por conta dos diversos produtos que deverão buscar o mercado internacional, e a falta de caminhões para escoar toda essa produção em tão pouco tempo somados a falta de armazéns que deverão estar tomados de grãos pela lentidão de escoamento que já se faz notar, temos um cenário pouco confiável para elevação de preços.

Adicionamos ainda o mais recente dos problemas que é a Gripe Aviária, que surge de forma meteórica no maior importador da soja brasileira (China) que através da eliminação do seu plantel de aves para controle do vírus, deverá reduzir sua produção de ração animal e, por conseguinte menos demanda por soja e farelo. A meu modo de ver, se a safra norte americana não sofrer qualquer tipo de intempérie climática e confirmarem 90 milhões de toneladas na sua produção de soja, teremos a saca de soja valendo perto dos R$ 40,00 já que a soja do Centro Oeste tem no mercado interno o principal destino de Paraná e Rio Grande do Sul que estão na presente safra colhendo 50% e 90% a mais respectivamente do referido produto, devendo reduzir violentamente as compras da soja a ser industrializada. É aguardar pra ver e torcermos mais uma vez para que o clima da safra americana seja mais uma vez a fiel da balança na formação dos preços da bolsa de Chicago.

* Economista e professor da UNIGRAN 

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