Especialista fala sobre Educação e Cuidado

Mestra em Educação foi a palestrante do FORUMEIMS
A professora Leusa de Melo Secchi, membro do Fórum Permanente de Educação Infantil e coordenadora do Departamento de Educação Infantil da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande, foi a palestrante Fórum Permanente de Educação Infantil do Estado de Mato Grosso do Sul – FORUMEIMS. A mestra em Educação (UFMS) falou sobre “Cuidar e educar crianças de 0 a 3 anos” e, em entrevista exclusiva ao Departamento de Comunicação da UNIGRAN, falou em primeira pessoa, como educadora, para detalhar sua visão sobre a ação profissional nessa fase de formação. UNIGRAN: Na fase de zero a três anos, os estímulos são muito importantes para o desenvolvimento da criança? Leuza – São fundamentais. Se pensarmos o desenvolvimento e aprendizagem de 0 a 3 anos, veremos que está muito focado no movimento, na ação, na exploração; então, estímulo para quem está aprendendo a se desenvolver é fundamental. Estímulos de toda a ordem: afetivo, cognitivo, auditivo, musical, história, leitura. Basicamente o trabalho ocorre em função dos estímulos que eu seleciono para intervir a favor do desenvolvimento e da aprendizagem da criança, é premissa básica: estimular sempre a criança nessa faixa de idade. UNIGRAN: Nesse sentido, você acha que há muitos erros na educação atual, que devam ser revistos? Leuza – Acho que há uma ausência de estímulo, uma passividade muito grande dos profissionais que atuam com crianças de 0 a 3. Por vezes, eu até julgo que não é um só desconhecimento, há passividade porque isso envolve uma certa disciplina e muito desprendimento. Criança de 0 a 3 dá trabalho, é intensa; então, eu tenho que ter uma rotina intensa, eu tenho que ter energia para poder atuar, [a atividade] tem que ser com muito movimento e muita ação. Não acho que seja questão de erro, mas de ausência de estímulo, uma passividade dos profissionais que estão atuando. UNIGRAN: O professor, então, necessita agir diretamente nesse processo? Leuza – Se tem um momento de vida que se julga que a aprendizagem é social, eminentemente é de 0 a 3. Nessa fase, as crianças têm uma relação de mediação intensa com os adultos. Quem é que dá sentido e significado para as primeiras ações das crianças? Os que estão com elas. Se em casa é o pai, a mãe, a avó quem cuida; na Instituição é o professor. Ele é a figura central, não a única, mas de extrema importância para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças nessa faixa de idade. UNIGRAN – O mundo tem colocado as crianças cada vez mais cedo em contato com o ambiente escolar. A “escolinha” é lugar de cuidado ou um espaço pedagógico? Leuza – Na verdade, quando se articula cuidado e educação, não é só nessa faixa etária, mas nela são funções indissociáveis. Não há possibilidade de fazer educação de crianças de 0 a 3 sem estar cuidando dela, porque as necessidades estão voltadas para o bem-estar, para a segurança. Eu vou constituir autonomia a partir da referência de alguém que precisa ser cuidado, mas não em termos de saúde e alimentação, vou cuidar das relações que se estabelecem nesse contexto. Então, o pedagógico é essa articulação entre cuidado e educação. Nem usaria cuidar e educar: é o educar que tem como ação fundamental o cuidado. Qualquer profissional que atua de modo educacional com criança, jovem, ou adulto educa e cuida. Eu [professor] quero preservar a saúde desse outro, não em termos de saúde biológica, mas mental: vivenciar coisa que são importantes para aquela idade, atender as necessidades da faixa etária. Quando elejo isso com propriedade e qualidade, estou cuidando e educando, não há possibilidade de não articular esses dois elementos. UNIGRAN – Como articular toda a necessidade de estímulo e ação dessa fase com a questão de limites? Leuza – As crianças precisam de limite sempre. As relações de limite têm que ser dadas às crianças. Eu digo “não” como um “não” estruturante, há coisas que as crianças podem fazer, e devem, e há coisa que elas devem entender que não podem. Elas não têm a maturidade para compreender, por exemplo, o que significa a dimensão da marca da mordida que ela deixou no outro coleguinha. Eu entendo isso como parte do desenvolvimento normal da criança, mas eu não naturalizo isso sem fazer intervenção. Eu vou ensinar que existem outros modos de se relacionar. O limite tem que vir junto ao atendimento da necessidade. Seu só digo o não, eu estou fazendo a supressão daquilo e não atendo a necessidade. Dizer que não pode morder não é suficiente, eu tenho que entender porque ela mordeu, em que contexto apareceu, porque ela está manifestando esse comportamento e a partir dessa leitura eu tenho que atender a sua necessidade. Ela pode morder porque quis o brinquedo, ou porque quis a atenção da professora. Eu vou mostrar para ela que, quando ela pedir de outra maneira, eu também atendo a necessidade e assim eu dou o limite e a oportunidade que ela possa desenvolver, realizar e produzir aquilo que tem necessidade. Hoje é essa dimensão que falta aos professores: fica só na negação do que não pode, e as possibilidades? Qual é o campo de poder que eu abro às crianças: de negociação, de experiência do que elas podem vivenciar? Quando faço isso [abrir possibilidades] eu estou dando limites. UNIGRAN – Como analisa a preparação dos professores para essa realidade? Leuza – Hoje nós temos uma questão problemática com a formação de professores. Há muitas instituições formadoras que não estão contribuindo para a formação inicial. A formação tem que ser um processo permanente, um compromisso das instituições nas quais o profissional atua, mas ele também tem uma parcela que é dele na formação continuada. Hoje eu vejo alguns profissionais que ficam à mercê da oferta do sistema. O sistema tem por obrigação se preocupar com a formação continuada de seus profissionais, mas tem uma parcela que é do próprio profissional. Ele tem que entender que formação é um processo contínuo até para os produtos serem mais provisórios, alterando práticas, conteúdos metodológicos, intervenções. O estudo permanente permite ampliar meu universo de compreensão da área em que atuo. Permitindo avançar em relação a isso, eu vou dar outra dimensão para a minha própria formação e não há possibilidade de fazer isso sem estudo.(CM)

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