Revista Multidisciplinar da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Unigran | ISSN-1981-3775

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Interbio v.6 n.2 2012 - ISSN 1981-3775

Profissão Farmacêutica: do Boticário ao Farmacêutico Clínico

Editorial

A profissão farmacêutica teve sua origem no mundo Árabe, na primeira metade do século XI, passando ao ocidente latino no século XI, onde se encontram relatos da existência de farmácias públicas. A separação entre o exercício da Farmácia e da Medicina foi decretado pelo Édito de Frederico II da Suábia, promulgado em 1233 no Sul da Itália, considerado a Carta Magna da Farmácia. No século XVII a farmácia foi definida como arte e técnica da combinação de substâncias simples para formar compostos, remédios e antídotos. Já no século XVIII a figura da botica e do boticário identificavam a farmácia e os que desenvolviam este ofício.

Durante o século XX a profissão farmacêutica sofreu grandes mudanças, podendo ser identificados três períodos: um período tradicional, um período de transição e um período de desenvolvimento do cuidado ao paciente.

Durante o período tradicional a função do farmacêutico era obter, preparar e garantir a qualidade dos produtos. A obrigação primária compreendia preparar medicamentos secundumarteme em segundo lugar proporcionar conselhos adequadosaos clientes que solicitavam a prescrição de medicamentos. Gradualmente as preparações farmacêuticas foram sendo substituídas por produtos industrializados, e a escolha do medicamento não cabia mais ao farmacêutico e sim ao médico.

O período de transição, por volta da década de 50, é marcado pela industrialização. O medicamento era o foco da atenção e não o paciente.A farmácia passe a ser um canal de distribuição do medicamento e o farmacêutico passa a perder seu valor social. Neste contexto, já em 1973, no Brasil a maioria dos estudantes de farmácia optava pela área de análises clínicas, evidenciando o afastamento do profissional farmacêutico das farmácias.O farmacêutico passa a ser reconhecido socialmente como bioquímico.

No final da década de 80 foi promulgada a Constituição da República e com ela nasceu o Sistema Único de saúde.

Houve então o desenvolvimento de novas funções socialmente necessárias. Segundo Robert J. Cipolle (1990), "os medicamentos não tem doses, os pacientes sim". Este olhar para as responsabilidades sociais refletem a função do farmacêutico clínico.

É importante estabelecer os conceitos de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica. A Farmácia Clínica é definida pela Sociedade Européia de Farmácia Clínica como: "uma responsabilidade da área da saúde, que descreve a atividade e o serviço do farmacêutico clínico para desenvolver e promover o uso racional e apropriado dos medicamentos e seus derivados". Este movimento teve início em 1960 nos Estados Unidos e ressaltava um modelo de prática farmacêutica aplicado especialmente em hospitais. Os autores mais reconhecidos estabelecem a Atenção Farmacêutica como uma prática, isto é, uma ferramenta que facilita a interação do farmacêutico com o usuário do sistema de saúde, facilitando um maior acompanhamento dos pacientes, controlando a farmacoterapia, prevenindo, identificando e solucionando problemas que possam surgir durante o processo.

Vários hospitais brasileiros já oferecem residência farmacêutica, um grande avanço para a formação do profissional farmacêutico clínico. Na prática observa-se, ainda, que o farmacêutico continua centrado nas questões burocráticas e administrativas na maioria dos hospitais brasileiros. Lutamos ainda pela valorização profissional, e o grande desafio é uma mudança cultural dos próprios farmacêuticos, dos demais profissionais de saúde e, principalmente,dos administradores de sistemas de saúde e órgãos governamentais.

Uma conquista recente foi a atualização da CBO - Classificação Brasileira de Ocupações, publicada em 31 de janeiro de 2013. Esta amplia o campo de atuação do farmacêutico. O farmacêutico pode agora atuar nas seguintes ocupações: farmacêutico, farmacêutico analista clínico; farmacêutico de alimentos; farmacêutico em práticas integrativas e complementares; farmacêutico em saúde pública; farmacêutico industrial; farmacêutico toxicologista; e farmacêutico hospitalar e clínico. Entre estas oito ocupações, a CBO lista, ainda, mais de cem títulos sinônimos. Estamos certos de que muitas outras conquistas estão por vir!

Letícia Castellani Duarte

Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília